Biografia

O alagoano Esdras Coelho Baptista nasceu em 9 de maio de 1923, em Maceió, filho do pernambucano Severino Manoel Baptista e da paraibana Alyde Coêlho Baptista. Mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde morou até o final da vida.

 

Começou a trabalhar aos 14 anos como caixeiro e depois vendedor. Em 1942, foi empregado como aprendiz de ótico na loja Gabriel & Cia. Dois anos depois, era auxiliar de vendedor na conhecida loja de departamentos Mesbla, na Rua do Passeio, no centro do Rio de Janeiro, onde aprendeu fotografia.  

foto de família de Esdras Baptista

Seu primeiro emprego como fotógrafo foi no jornal A Classe Operária, ganhando 200 cruzeiros por tarefa, em 1946. A Classe Operária era o jornal oficial do Partido Comunista do Brasil (PCB). Com a volta à legalidade do PCB no ano anterior, o jornal também voltou a ser publicado e distribuído com regularidade. Foi também em 1946 que Esdras fez seu primeiro registro profissional como jornalista. Sua relação com o PCB se iniciou neste momento, e, segundo Dinah Papi Baptista, foi quando ele conheceu Hilca Papi Baptista, sua futura esposa: “na militância do Partido”. É incerto se Esdras se filiou oficialmente ou não ao PCB.

 

Essa convivência com as pessoas do Partido, especialmente com o jornalista Yolandino Maia, gerou as possibilidades para as filmagens futuras de Esdras, com figuras como Graciliano Ramos, Cândido Portinari e Luís Carlos Prestes – no seu acervo encontramos filmagens Prestes, como senador eleito, na Assembleia Constituinte de 1946, e dos comícios da campanha “O Petróleo É nosso”, em 1948. Estas são algumas de suas mais antigas filmagens.

 

De acordo com sua carteira de trabalho, Esdras também trabalhou para o jornal Imprensa Popular – herdeiro do PCBista Tribuna Popular.

 

Em 1947, Esdras deixou seu emprego na Mesbla e foi trabalhar como vendedor do Departamento Cinematográfico da Byington & Cia, ganhando 2.500 cruzeiros mensais. Tradicional empresa de engenharia e equipamentos elétricos com importante participação na produção de filmes na década de 1930 através do estúdio Sonofilms, a Byington & Cia tinha um setor inteiramente dedicado à venda de projetores 16mm e comercialização de filmes educativos. Foi na segunda metade dos anos 1940 que Esdras realizou suas primeiras filmagens, amadoras e profissionais, em 16mm. De repórter fotográfico se tornaria repórter cinematográfico. 

foto de família de Esdras Baptista

Com o amigo Yolandino (cineasta e roteirista), em 1951, realizou um curta-metragem em 16mm intitulado Substantivo Comum, filme experimental que, segundo informações do próprio Esdras (não confirmadas), teria concorrido no Festival de Karlovy Vary, na Tchecoslováquia.

 

Em 1952, também na companhia de Yolandino, realizou as únicas filmagens conhecidas do escritor Graciliano Ramos. Esdras filmou o autor de “Vidas Secas” em seu apartamento com os filhos, recebendo a visita do pintor Cândido Portinari e do editor José Olympio. Graciliano não gostava de ser fotografado ou filmado, mas Esdras teria feito isso graças ao amigo em comum. Yolandino Maia era membro do PCB, crítico de cinema do jornal Imprensa Popular e diretor e produtor cinematográfico, proprietário da Yori Filmes. 

 

Junto a Yolandino e também em 1952, Esdras trabalhou em um projeto da Escola do Povo do PCB – o “Centro Experimental de Estudos Cinematográficos”. A Escola do Povo foi uma continuação da “Universidade do Povo”, projeto do educador comunista e filiado ao PCB Paschoal Lemme criado em 1946. Os cursos eram oferecidos no Rio de Janeiro e destinados a adultos. O “Centro Experimental de Estudos Cinematográficos” se organizava como um desses cursos de extensão cultural, junto a outros cursos, como curso prático de jornalismo sindical, coral popular, teatro de bonecos, dentre outros. O filme Substantivo Comum foi exibido no curso.

 

Em 1957, a Yori Filmes tentou produzir Procura-se um Céu, direção de Adelino Gianotti Rodrigues, com a participação de Wilson Grey e Thereza Amayo. Porém, o filme não foi finalizado. Em entrevista, Xavier de Oliveira (cineasta e amigo de Esdras Baptista) confirma que Procura-se um Céu teve participação de Esdras e não foi finalizado. Thereza Amayo, em entrevista, comentou que o filme não foi finalizado por falta de dinheiro.

 

Outra ligação sua com o meio cinematográfico foi o diretor Lima Barreto. Em 1956, acompanhou o diretor do enorme sucesso da Vera Cruz, O cangaceiro (Lima Barreto, 1953), na busca por locações para o jamais realizado “O sertanejo”. Nessas viagens, Esdras filmou alguns rolos que estão presentes na coleção guardada pelo LUPA-UFF e que foram utilizadas, sem o crédito a Esdras, no documentário 70 anos de Brasil (dir. Jurandyr Noronha, 1974).

 

O ganha-pão de Esdras ficou garantido quando, a partir de 1952, se tornou funcionário público da prefeitura do Distrito Federal, inicialmente com o cargo de discotecário. Nesse mesmo ano comprou sua casa de vila no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde morou e trabalhou durante quase quatro décadas, com seus filmes e moviola instalados num quartinho dos fundos.

foto de família de Esdras Baptista

Com pouco mais de trinta anos de idade, sua carreira já tinha se voltado completamente para a função de repórter cinematográfico, assumindo esse cargo posteriormente na Prefeitura do Rio de Janeiro, passando a filmar anualmente, por exemplo, as festividades do carnaval. Começou a trabalhar também na televisão (que antes do videotape ainda realizava filmagens em película 16mm)  tornando-se cinegrafista da TV Rio, canal 13, provavelmente em fins dos anos 1950.

Foi como repórter cinematográfico que se tornou membro, em 1956, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Filiou-se ainda ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Guanabara (1957) e à Associação dos Repórteres Fotográficos do Rio de Janeiro (1959).

Ao longo dos anos 1950, filmou os principais eventos políticos do Brasil e do Rio de Janeiro, registrando imagens de políticos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, entre outros. Além de inaugurações, obras e cerimônias públicas, filmou atletas e celebridades, registrando desfiles de misses e o retorno ao Brasil dos campeões da Copa do Mundo de futebol de 1958.

digitalização de página da carteira de trabalho de Esdras Baptista

Algumas filmagens parecem reforçar sua filiação política, como imagens da Convenção do PTB, da visita ao Brasil do astronauta soviético Yuri Gagárin em 1961, do Comício da Central do Brasil com Jango às vésperas do golpe, e uma entrevista de Francisco Julião em 1963. Não apenas filmou a visita de Fidel Castro ao Rio de Janeiro em 1960, como viajou à Cuba no ano seguinte, realizando diversas filmagens no país comunista.

 

É deste momento que grande parte de sua coleção se origina – além de entregar as filmagens para as televisões, Esdras também guardava cópias em sua casa. Esdras também tinha, aparentemente, uma paixão por filmar todo e qualquer evento – segundo Xavier de Oliveira, em entrevista: Esdras “tinha na casa dele uma motocicleta, uma câmera 16mm muito bem equipada, sonora… Então qualquer evento que acontecesse no Rio de Janeiro ele pegava a câmera dele, botava para filmar… Por exemplo, uma certa vez ele filmou uma invasão num supermercado que houve aqui no Rio de Janeiro nos anos 60, e ele já saiu com a motocicleta a filmar”.

 

No início dos anos 1960 tornou-se cinegrafista correspondente de canais de televisão americanos, por exemplo, da Columbia Broadcasting System, para o programa CBS News, e para o Hearst, cuja subsidiária Telenews também fornecia noticiários para a CBS.

 

Há poucas informações sobre a trajetória de Esdras a partir de 1964. Neste momento, a instauração da ditadura militar no Brasil e a crescente perseguição aos comunistas provavelmente afetou parte do trabalho de Esdras, principalmente no que diz respeito à temática de suas filmagens. A partir desse momento, realizou muitas propagandas e anúncios comerciais, assim como filmagens de projetos do regime militar: Transamazônica, Mobral, Olimpíadas do Exército, etc. Em 1972, concluiu o documentário “Sonho que se fez realidade”, sob encomenda da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC), filmado em cinco Estados diferentes. Por conta própria, filmava movimentos estudantis, shows e o trabalho de diversos artistas plásticos, como Djanira da Motta e Silva e Newton Cavalcanti.

 

Nas décadas de 1970 e 1980, Esdras trabalhou no INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) e posteriormente no INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). Em 1974, foi lotado como “técnico em Comunicação Social”. A partir desse momento, observa-se uma grande quantidade de filmagens com temas médicos, um número que se aproxima ao número de filmagens realizadas sobre outros temas. Realizou filmagens sobre temas ligados à saúde pública e assistência social.

Digitalização do cartão de identidade do trabalhador do Ministério da Previdência e Assistência Social, de Esdras Baptista

Esdras foi casado até o final da vida com Hilca Papi Baptista, que era esteticista, mas sempre esteve junto das filmagens como sua principal assistente. Esdras e Hilca tiveram um único filho, Markos Papi Baptista, que seguiu a carreira do pai, tornando-se funcionário da TVE no cargo de Editor de Vídeo.

Esdras morre em 20 de junho de 1988, por miocardiopatia dilatada e embolia pulmonar, aos 65 anos de idade. Segundo entrevista com Dinah Papi, ele trabalhou durante toda a vida, estando ativo até a sua morte.

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